segunda-feira, 14 de março de 2011

cada vez gosto mais desse livro


"Um homem foi a um alfaiate experimentar um terno. Parado em frente ao espelho, ele percebeu que o colete estava um pouco irregular na parte inferior.

- ora - disse o alfaiate - não se preocupe com isso. Basta você puxar a ponta mais curta para baixo com a mão esquerda, que ninguém jamais vai perceber nada.

Enquanto o cliente fazia exatamente isso, ele notou que a lapela do paletó estava com uma ponta enrolada em vez de estar rente.

- isso? - perguntou o alfaiate - Isso não é nada. É só você virar a cabeça um pouquinhoe segurar a lapela no lugar com o queixo.

O freguês obedeceu e, quando o fez, observou que a costura de entrepernas estava meio curta e que o gancho lhe parecia um pouco apertado demais.

- ora, nem pense nisso. Puxe o gancho para baixo com a mão direita e tudo vai ficar perfeito. - o freguês concordou e comprou o terno.

No dia seguinte, o homem estreou o terno com todas as alterações de queixo e mãos. Enquanto ia mancando pelo parque com o queixo segurando a lapela no lugar, uma das mãos puxando o colete e a outra mão agarrada ao gancho, dois velhos pararam de jogar damas para vê-lo passando com dificuldade.

- Meu Deus! - disse o primeiro velho - veja aquele pobre aleijado.

O segundo homem refletiu por um instante antes de sussurrar.

- É, ele é bem aleijado mesmo, mas sabe o que eu queria saber...onde será que ele comprou um terno tão elegante?"

A atitude do segundo velho constitui uma reação cultural comum diante de uma pessoa que desenvolveu uma persona impecável, mas que tem que se aleijar toda ao tentar mantê-la. Bem, ela está aleijada, mas veja como está elegante, veja como é boa, veja como está se saindo bem. Quando começamos a definhar, tentamos caminhar tortos para dar a impressão se que estamos cuidando de tudo, que tudo está bem e em perfeita ordem.

do livro Mulheres Que Correm com os Lobos (Clarissa Pinkola Estés) - editora Rocco

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