sábado, 17 de julho de 2010

surpresa!


Eustáquio chegou em casa um dia e, ao abrir a porta, antes de acender a luz, ouviu: 'Surpresaaaa!!!'.

Abriu um leve sorriso assustado.

Acendeu a luz e NADA! NINGUÉM!

Coisa estranha.

Comeu algo e foi dormir.

Na volta do trabalho, no dia seguinte, novamente: 'Surpresaaa!!!'

NADA! NINGUÉM!

Isso passou a se repetir todo dia.

Seria sua mente lhe pregando peças? Seria estresse?

Resolveu ir ao médico. Explicou a situação. O médico pediu uma série de exames neurológicos.
Receitou calmantes.

Estava tudo bem com ele. Mas continuava a 'Surpresa!' noite após noite...

.....

alguém termina a estória para mim???

5 comentários:

  1. Enquanto ele estava no trabalho alguém trocou sua porta por uma porta falante?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eustáquio acostumou-se com aquilo. Não se assustava mais com o tal “Surpresa” e o sentido da palavra perdeu-se com o tempo. Simplesmente nada mais lhe surpreendia.
    Presenciou o desespero de um moto-boy e nem se abalou. Estava atravessando fora da faixa entre os carros. Eustaquio não se preocupou, se quer notou a buzininha irritante da moto. Viu a maquina vindo em sua direção. Reparou nas rodas da moto travando marcando o chão com borracha e os olhos de susto do motociclista. Mas não se surpreendeu, não se assustou, continuou andando e atravessou a avenida sem maiores problemas, calmamente. Os berros de fúria do motoqueiro já eram previstos e Eustaquio também não se surpreendeu com isso.
    Todo dia ao chegar do trabalho e abrir a porta de casa, aquela barulheira se repetia. Começou a fazer parte da festa já que ele mesmo era o homenageado. Abria a porta como sempre e fingia levar um susto e depois escancarava um sorriso. Encenava um beijo na mulher e um abraço apertado nos filhos pequenos ajoelhando-se e estendendo os braços no espaço. Abria garrafas de cerveja e vinho e brindava com os copos do armário. Falava com os convidados, contava piadas e ria alto. Educadamente, tarde da noite, pedia aos remanescentes que saíssem.
    Dia seguinte acordava com a mesma sensação de tédio e marasmo. A falta de surpresa e a previsibilidade do dia a dia lhe consumiam vagarosamente. Um mormaço interior lhe deixava o ar pesado. As horas custavam a passar e a vontade de chegar à sua festa diária deixava os minutos mais extensos.
    A festa de Eustaquio crescia diariamente. Parecia-lhe que mais e mais pessoas vinham. E cada vez mais o término da festa emparelhava-se com o começo do dia. Não era de se surpreender que Eustaquio estivesse com a aparência abatida naquela sexta-feira.
    Chegando em casa, destrancou a porta respirou fundo e deu o primeiro passo.
    A casa estava cheia. Pessoas que há muito não via estavam ali. Não era imaginação. Estavam todos ali. Chorou de felicidade ao ver todos. Amores perdidos no passado, amigos esquecidos e parentes de longe. Lembrou-se do Zagalo e repetiu a frase: “Aí sim fomos surpreendidos novamente!” Gargalhou, pediu uma pizza, embriagou-se. Colocou um vinil pra tocar e cantou alto. Deitou-se no colo de Zuleica e adormeceu escutando Altair recitando poemas e Vinicius fazendo a trilha sonora com o violão de sete cordas.
    Quando foi quarta-feira, todos do escritório espantaram-se ao saber que Eustaquio foi encontrado morto em seu apartamento. A vizinha ficou rouca de tanto gritar pra desligar o som, chamaram o zelador e depois a policia, que arrombou a porta. Havia copos espalhados por todos os cantos, garrafas de uísque vazias e a Elis Regina tocava nas caixas de som já estouradas. Dizem que morreu sorrindo.

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  4. Curti essa história do Eustáquio. Vcs mandaram bem, Paula e André!! ;)

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